Visão na escola: como os professores podem ajudar os oftalmologistas a monitorar e cuidar da saúde visual das crianças em fase de alfabetização e aprendizado?
Vamos começar a responder com outras perguntas. Por exemplo: você sabe que os cinco sentidos desempenham um papel muito importante no desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial de uma pessoa, certo? Porém, você sabia que o sentido visual é responsável por 75% da interação do ser humano com o mundo e é determinante na nossa capacidade de aprendizagem?
Mas como a visão se desenvolve?
Toda criança nasce com a visão embaçada. Sim, ao abrir os olhinhos, o bebê só é capaz de perceber sombras e uma mistura de vultos claros e escuros. Na medida que cresce, se desenvolve e passa a fazer experiências como buscar objetos com as mãos, interagir com pessoas é que a visão dos olhinhos vai se desenvolver e ganhar nitidez.
Você pode comparar um pouco com a fala e com a audição que são processos que podemos perceber de forma mais evidente.
Porém, o que talvez você não sabia, é que a visão da criança vai se desenvolver até a adolescência, capacitando a criança para perceber e absorver o mundo cada vez melhor, seja nas interações sociais, na escola, na prática de exercícios e de esportes.
E embora a visão seja um componente fundamental para o sistema sensorial, ela é importante reforçar que ela não se desenvolve sozinha. Ou seja: deve ser estimulada e exercitada. Ou seja: assim como fazemos para falar, ouvir, andar, devemos aprender a ver.
Visão é mais que ver letras, números, objetos, pessoas e coisas com nitidez
Os conceitos de visão que vamos passar para você, professora e professor, não se limitam a acuidade visual que pode ser medida com alguns testes práticos em uma triagem na escola, ou em uma consulta oftalmológica de rotina. Neste exame, a criança irá se deparar com uma tabela de letras (optotipos), em fileiras que vão descendo dos maiores para os menores tamanhos. O que chamamos de medida da acuidade visual pelo teste de Snellen. Este exame é muito importante para identificar erros de refração e receitar o uso de óculos para corrigir o grau, da miopia, hipermetropia e astigmatismo, por exemplo.
Porém, quando falamos de visão, devemos ir mais longe. Nosso conceito envolve a visão além dos olhos, que é processada pelo cérebro.
Saiba mais sobre acuidade visual e a tabela de Snellen neste post.
Assim com audição e o olfato, a visão acontece no cérebro
Você pode pensar que são os olhos responsáveis pela nossa visão, certo? Errado. Você precisa saber que a função dos nossos olhos é captar e focar a luz na retina. E é a retina, a parte fotorreceptora e fotossensível dos olhos que é capaz de transformar a informação luminosa, da luz física, em sinais neurais que são enviadas ao cérebro para serem traduzidos em informação visual. Portanto, a visão acontece no cérebro e não nos olhos. E por esta razão, ela deve ser aprendida, estimulada e desenvolvida.
A VISÃO ACONTECE NO CÉREBRO Da mesma maneira que a audição não acontece no ouvido, ou o olfato no nariz, a visão é processada no cérebro, estando mais de 50% das funções cerebrais associadas à visão.
Entenda como acontece o processamento visual a partir das células fotorreceptoras da retina.
Os professores são importantes para ajudar a monitorar e a desenvolver a visão das crianças.
Como já falamos, a visão é aprendida. Ou seja, ela vai melhorando e se desenvolvendo ao longo da vida. Portanto, se a criança sofrer alguma doença ocular ou algum distúrbio de refração, tal como a miopia, ela poderá ter perdas visuais sem perceber. Por exemplo, no seu dia a dia em sala de aula, você é capaz de dizer com certa facilidade se a criança está aprendendo a falar ou a ouvir. Isto porque, em se tratando da fala e da audição, é possível fazer comparações objetivas de um estágio para o outro de evolução da criança. Porém, em relação a visão, exceto em casos muito evidentes de baixa visão, não é possível perceber se a criança enxerga dentro da normalidade para aquela idade.
Por que os professores podem ser os maiores aliados dos oftalmologistas?
Na escola, e em sala de aula, fica mais fácil comparar crianças da mesma idade fazendo tarefas semelhantes, com graus de dificuldade diferentes na execução e no aprendizado. Por isso, os professores podem ser os maiores aliados dos oftalmologistas na tarefa de proteger e resguardar a visão das crianças.
Como dissemos, crianças com problemas de visão não sabem avaliar se têm visão normal ou não. Além disso, elas ainda não sabem identificar e expressar os problemas oculares que estão enfrentando. E o exame oftalmológico permite a intervenção precoce que é fundamental para um tratamento preventivo, evitando perdas e distúrbios de aprendizagem relacionados à baixa qualidade visual.
Aproximadamente uma em cada quatro crianças tem um distúrbio de visão que interfere em sua capacidade de aprender.
“Quando uma criança apresenta baixo rendimento escolar ou dificuldades de aprendizado, há 75% de chance de que estejam relacionados a problemas de visão.”, alerta Dr. Ricardo Guimarães, Presidente do Hospital de Olhos de Minas Gerais.
Como a visão é um sentido de aprendizado, as crianças que lidam com problemas visuais não tratados, podem apresentar atrasos nas habilidades iniciais de desenvolvimento, como sentar, engatinhar, andar e falar. Além isso, correm o risco de não aprender a realizar tarefas tão rapidamente quanto as outras crianças, assim como começar a ler e escrever.
Em sala de aula, fique atento aos sinais de problemas de visão
- Apertar os olhos
- Esfregar os olhos com frequência
- Olhar de lado para ver um objeto
- Sensibilidade extrema à luz: fotofobia
- Esbarrar ou tropeçar demais
- Aproximar demais dos objetos, cadernos, livros e quadro para ver
- Dificuldade de acompanhar ou de seguir um objeto com os olhos
- Falta de alinhamento (estrabismo) ou movimento anormal dos olhos
- Olhos muito vermelhos ou lacrimejado
- Incapacidade de ver objetos à distância
- Posições ou ações incomuns da cabeça para ver algo, como inclinar a cabeça para ver uma página
A importância dos exames oftalmológicos de rotina na fase escolar
Se você notar algum sinal de problemas de visão, ou se quiser ter certeza que a criança não esteja enfrentando problemas para enxergar, alerte aos pais que procurem um oftalmologista o mais rápido possível.
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