Você já acordou no meio da noite com o alarme de um carro disparando?

Esse som não é aleatório: é um sinal de defesa. No reino animal, sistemas semelhantes disparam alertas para fugir de predadores ou aproveitar oportunidades. Nos humanos, o princípio é parecido, mas com uma diferença crucial: temos consciência. Nosso sistema sensorial não apenas reage, ele interpreta, antecipa e decide. Essa dualidade, instinto e consciência, é a chave para entender a Sobrecarga Sensorial (SS) na era digital.

Imagine o sistema sensorial como um alarme interno para te avisar sobre mudanças no ambiente em que vivemos.

É um sistema de proteção, mas quando desregulado, produz alarmes falsos, incessantes, desorientadores. É aí que surge a SS: um fenômeno em que o cérebro, sobrecarregado e incapaz de filtrar estímulos, entra em colapso.

Sons, luzes, notificações. Tudo chega como um bombardeio caótico. Resultado? Ansiedade, fadiga, irritabilidade e queda de desempenho. Essa desregulação é uma raiz silenciosa da crise de saúde mental contemporânea.

Sobrecarga Sensorial e Sobrecarga Alostática

A SS não atua sozinha. Ela se conecta à sobrecarga alostática, conceito que descreve o desgaste acumulado do organismo diante de estresse crônico. Quando o sistema nervoso é bombardeado por estímulos sem pausa, mecanismos de adaptação entram em falência, afetando hormônios, imunidade e equilíbrio emocional. É um ciclo invisível que mina saúde física e mental. Que leva a doenças físicas como cardiopatias, câncer e transtornos mentais.

Por que isso está se tornando comum?

Vivemos em um ambiente saturado: excesso de telas, iluminação artificial, poluição sonora e visual. O cérebro, projetado para estímulos naturais, não acompanha o ritmo digital.

Crianças expostas precocemente a dispositivos apresentam maior risco de desregulação sensorial, comprometendo atenção e funções executivas e, pior ainda, seu neurodesenvolvimento.

Adultos enfrentam fadiga crônica e burnout em ambientes hiperestimulantes.

Distúrbios Neurovisuais: A Face Oculta da SS

Quando falamos em SS, a visão é protagonista. Ver não é apenas enxergar imagens. É organizar espaço, regular atenção e influenciar humor. Ignorar isso é um erro grave.

Distúrbios Neurovisuais tais como estresse visual, sensibilidade à luz, dificuldade de leitura, náusea de movimento são sinais claros de sobrecarga.

E há um detalhe pouco conhecido: as células IPRGC (Intrinsically Photosensitive Retinal Ganglion Cells). Elas não formam imagens, mas controlam sono, humor e ritmo circadiano. Expostas à luz artificial intensa (LEDs, telas), disparam sinais que alteram todo o equilíbrio neuroendócrino. Pesquisadores como Silverstein e Landgraf já demonstraram a conexão entre disfunções visuais e transtornos mentais. Algo que parecia absurdo até pouco tempo.

Impacto além da clínica

A SS não é apenas um problema individual. Ela afeta produtividade, aprendizagem e saúde pública. Ignorá-la é perpetuar sofrimento silencioso. Reconhecê-la é abrir caminho para soluções concretas.

Mais que neurociência: uma questão de dignidade

Por trás de muitos “comportamentos problemáticos” pode existir um sistema nervoso gritando por alívio,  não por punição.

Nos próximos artigos, vamos explorar cada uma dessas trajetórias. Não para apontar culpados, mas para restaurar oportunidades.

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