Nos últimos anos, cresceu o número de diagnósticos de autismo entre crianças e adultos. A evolução do conhecimento e de pesquisas permitiu uma maior identificação dessas pessoas. Para se ter uma ideia, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, registrou uma média de diagnósticos de 1 para cada 110 crianças em 2006 e, atualmente, a relação é de 1 para 36 (dados de 2023).
A estatística impressiona e, felizmente, também impressiona saber que já é possível identificar sinais precoces de autismo pelos olhos. O processo é recente e ainda muito desconhecido para a população. Por isso, as campanhas educativas e divulgações são importantes e, claro, você deve seguir lendo para entender como é possível a relação desse espectro com a visão.

O QUE É O AUTISMO?
O autismo é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ainda tem fatores de origem multifatorial, com forte influência genética e possíveis fatores ambientais, sendo definido como um transtorno do neurodesenvolvimento. A condição é decorrente de um desenvolvimento atípico, causando alterações na capacidade de comunicação, interação e comportamentos bastante característicos.
SINTOMAS SÃO BASTANTE VARIADOS
Os sintomas do TEA são bastante variados e alguns deles são atraso na linguagem; movimentos repetitivos; não responder ao ser chamado; repetição de frases; falas sem sentido; comportamento rígido; isolamento social; exagero de interesses e dificuldade para fazer contato visual, o que chama muita atenção de quem está ao redor.

OLHO NO OLHO
Uma curiosidade interessante e, ao mesmo tempo, foco de estudos, está na dificuldade das pessoas com TEA olharem diretamente nos olhos. A situação é considerada um dos sinais iniciais e pode aparecer nos primeiros meses de vida.
Você sabia que a explicação para esse fato está diretamente ligada a uma ativação atípica em áreas subcorticais do cérebro, responsáveis por despertar a atração dos bebês por rostos e estímulos sociais?
Os oftalmologistas estão atentos a essas particularidades e pesquisam para entender mais sobre os efeitos, assim como formas para diagnosticar a condição através do olhar. O estudo envolve o método de rastreamento ocular, chamado de Eye Tracking, como uma das alternativas para identificar biomarcadores precoces de autismo.
A expectativa é aproveitar indícios, como a dificuldade dos bebês em focar o olhar no rosto de um interlocutor, para mensuração com o rastreamento, garantindo um diagnóstico precoce, importante para estabelecer intervenções antes que os sintomas se tornem mais marcantes.
COLÍCULO SUPERIOR
As pesquisas não estão restritas ao Eye Tracking. Outra hipótese foi levantada pelo neurologista argentino Ruben Jure, propondo que as alterações visuais no espectro sejam relacionadas a disfunções no colículo superior, uma estrutura do mesencéfalo responsável por integrar estímulos visuais e direcionar o foco de atenção.
É importante entender que as disfunções nessa estrutura podem estar associadas a sintomas visuais frequentes entre pessoas com autismo:
- Sobrecarga sensorial
- Fotofobia
- Dificuldade para perceber movimentos
- Integração multissensorial alterada
FILTROS ESPECIAIS
Por enquanto, lamentavelmente, o autismo ainda não possui cura. Contudo, alguns dos efeitos desconfortáveis podem ser tratados, melhorando a qualidade de vida das pessoas com o transtorno.
Afinal, sintomas como ansiedade e hiperatividade podem ser manejados com acompanhamento médico e terapias específicas.
Uma outra opção é que os tratamentos também já podem incluir uma alternativa oftalmológica promissora e de baixo risco: os filtros espectrais, proposta estudada por grupos de pesquisa como o de Whittaker et al.
COMO FUNCIONAM OS FILTROS?
Os filtros espectrais reduzem a sobrecarga visual, melhorando o conforto e, em alguns casos, aumentando a capacidade de leitura e de reconhecimento de expressões faciais, outra dificuldade comum entre pessoas desse grupo, contribuindo para desafios de comunicação e interação.
Uma curiosidade é que os filtros podem ser usados em óculos ou lentes de contato, sendo escolhidos após uma análise individualizada para identificar o tipo que mais beneficiará o usuário.
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