Os fatores genéticos e hábitos cotidianos inadequados seguem interferindo na saúde, obrigando a realização de cirurgias para manutenção do bem-estar, até mesmo, intervenções oculares. Para se ter uma ideia, por exemplo, o número de mineiros esperando por um transplante de córnea subiu nos últimos anos, consideravelmente, segundo dados do MG Transplantes, registrando 3,7 mil pessoas nessa fila. 

O número é decorrente de diversos fatores, como o consequente crescimento de diagnósticos de patologias oculares comprometedores da saúde da córnea e a pandemia do Covid-19, culminando com o atraso das operações. 

Os transplantes de córnea são recomendados para indivíduos, cuja córnea, a estrutura transparente, fina e delicada, na frente do olho, está danificada, colocando a visão em risco, ampliando a probabilidade de cegueira. Quando não é possível corrigir os problemas com medicação, prescrição de óculos e lentes, o procedimento cirúrgico é a opção.

*Imagem: Jornal Hoje em Dia (23.12.24)

As condições oculares mais propícias para indicar o transplante são o ceratocone, ceratite ou pós-ceratites, ceratopatia bolhosa, transplantes e distrofias estromais corneanas. As duas primeiras são as mais comuns. O ceratocone é causado pela alteração da camada, que tem sua espessura reduzida e, aos poucos, vai sendo empurrada para frente. Em algumas ocorrências, essa característica é ainda mais proeminente, deixando a córnea com um formato bastante similar a um cone, sendo visível a olho nú, quando a pessoa está de perfil. A doença é ligada, principalmente, ao costume de coçar os olhos, uma reação comum de alérgicos.

Já a ceratite,  causada por perfurações e diferentes microorganismos, como as infecções virais, bacterianas, fúngicas ou de um protozoário, a acanthamoeba, risco, principalmente para quem usa lentes de contato e tem hábitos prejudiciais, como a limpeza inadequada, uso prolongado e impróprio.

A ceratopatia bolhosa envolve o surgimento de bolhas na córnea, devido a uma falha no endotélio corneano, camada mais interna para bombear a água para fora e manter a transparência. Quando isso não ocorre, provoca desidratação. O problema ocorre pela distrofia endotelial corneana de Fuchs, trauma endotelial, durante cirurgia intraocular ou a colocação de um implante mal  colocado/projetado.

As distrofias corneanas decorrem do acúmulo de material opaco em uma das camadas formadoras da córnea, reduzindo a transparência e afetando a qualidade da visão. A condição tem origem genética e uma progressão lenta.

O diagnóstico das doenças deve ser realizado em consultório oftalmológico e qualquer sinal de alteração visual deve ser investigado. A recomendação é manter  exames anuais de check up, evitando um diagnóstico tardio para ocorrências graves, dificultando o tratamento e, consequentemente, elevando a probabilidade de um transplante.

O tempo de fila atual é de dois anos e meio, mas há dez anos, a Fundação Hospitalar do Estado (Fhemig), destaca que a realidade mineira era de fila zero, quando a captação era capaz de suprir a demanda local. A espera é nacional, já que o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) informa que em todo o país tem mais de 24 mil nomes na fila, sendo que em 2020, era superior a 16 mil.

Vale lembrar que as córneas são doadas por falecidos, contribuindo para a saúde de outras pessoas. A decisão pode ser tomada pelo próprio indivíduo, ainda em vida, ou pelos familiares, após o falecimento, autorizando a retirada, desde que as causas estejam dentro dos critérios. Até a realização do transplante, quem está na fila deve ter paciência e esperança para esperar e manter os cuidados iniciais para evitar a progressão da condição.

*** Juliana Guimarães, oftalmologista e Diretora do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, artigo publicado no Jornal Hoje em Dia , em 23.12.24.

 

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