A crítica, que é propriamente o exercício da reflexão filosófica, é também a mola mestra para que ocorra uma investigação e o estabelecimento dos limites legítimos das capacidades humanas de conhecer.

Neste sentido, não há prazer maior para um escritor, especialmente para um amador como eu, do que testemunhar o crescimento e a interação com sua audiência. Mesmo que as críticas sejam incômodas, ainda que não muitas, elas são essenciais para o nosso desenvolvimento.

Há mais de dois anos, iniciei minha jornada como colaborador semanal na rádio BandNews, abordando temas de neurociências, oftalmologia e saúde visual. Jamais imaginei ser capaz de completar 104 semanas ininterruptas, abordando mais de 100 temas, e transformando conceitos técnicos e complexos em conteúdos simples, compreensíveis e cativantes para um público majoritariamente leigo.

Mas conseguimos e tenho que agradecer aos leitores, ouvintes e equipe de jornalismos da rádio com quem tenho, hoje, com o perdão do trocadilho, uma sintonia fina.

Mas, voltando a importância da crítica.

Pensando como leitor, a escolha por um autor pode ser motivada tanto pelo prazer da leitura em si, quanto pelo valor do conhecimento transmitido. Neste ponto, ciência e arte se entrelaçam em um paradoxo fascinante: a ciência, frequentemente percebida como objetiva, aqui revela sua subjetividade; e a arte, vista como subjetiva, demonstra sua objetividade.

Consideremos artistas famosos. Picasso fez sucesso rápido.  Van Gogh, cujas obras, apesar de hoje veneradas, sempre foram muito criticadas, mal compreendidas, e nunca encontraram comprador em sua vida. Maurice Ravel emplacou seu Bolero e nunca mais conseguiu compor outro sucesso. Ou Kafka, que desejava a destruição de seus manuscritos que foram preservados, graças a um amigo. Excesso de autocrítica, talvez?

Dr. Paul Gachet preservou as obras de Van Gogh. Embora alguns tenham sido usados para tampar buracos de janela…

Esses exemplos ilustram a subjetividade do valor na arte e da crítica.

No universo da medicina, encontramos um paralelo interessante: o valor tangível, conceito amplamente aplicado na indústria, assume uma complexidade adicional. Na saúde, este valor é intrinsecamente subjetivo e relativo, moldado por experiências pessoais e comparações sociais.

A tangibilidade na medicina pode ser evidenciada pelo alívio ou cura de uma doença. Mas, até hoje, a medicina não conseguiu criar uma escala para medir a dor ou o sofrimento.

Tomemos, por exemplo, a cirurgia de catarata: o valor tangível é visto na melhoria da visão. Melhorou? Sim. Mas quanto? Será que poderia ter melhorado mais?

A comparação de resultados entre dois pacientes é desafiadora, evidenciando a subjetividade na percepção de valor. Ela só é possível quando um paciente opera dois olhos e compara o resultado do olho esquerdo, com o resultado do olho direito.

A qualidade do serviço médico, como no caso da cirurgia de catarata, depende tanto da competência e experiência do cirurgião, quanto da qualidade dos materiais utilizados, incluindo a lente intraocular, mais ou menos sofisticada

Para ilustrar esta situação, imaginemos que a NASA esteja selecionando astronautas para uma missão a Marte. Uma viagem de pelo menos três anos. Entre dois candidatos, ambos com 45 anos, um já realizou cirurgia de catarata, enquanto o outro não. A escolha genérica é escolher quem não foi operado porque, em tese, tem um olho sadio. Ou seja, um olho que está usando a nossa lente natural, o cristalino, em princípio sem indícios da catarata.

Mas, diante de um bom sendo crítico, a NASA vai optar pelo astronauta operado. E eu vou dizer o porquê.

Ao contrário do astronauta operado, e “equipado” com uma lente intraocular multifocal, o astronauta não operado será obrigado a usar óculos para perto. Com 45 anos, é certo que ele tenha presbiopia instalada. Já o astronauta operado de catarata, além da independência de óculos, já estará livre de uma possível catarata durante a viagem.

Este exemplo, provavelmente, surpreendente para muitos, destaca como o valor tangível na medicina vai além da ciência, abraçando a praticidade e a previsão estratégica.

E, acreditem, ter visão crítica e saber o valor tangível de qual é a qualidade de visão que você julga como ideal para você, é um fator crucial para o sucesso da sua cirurgia de catarata, por exemplo.

Sendo assim, concluo que a visão crítica é um valor tangível e que tem seus paralelos e interseções, para que tanto a ciência, a medicina e a arte possam ir muito além da mera funcionalidade ou visão estética. Ele reside na capacidade de transformar e influenciar vidas, seja por meio de uma visão restaurada ou por uma obra de arte que desafia nossas percepções. E também nos objetivos, desejos, e até mesmo sonhos, de cada indivíduo.

E como fica o pensamento e a visão crítica nos campos do conhecimento, da pesquisa, da arte, e da medicina, nos tempos de Inteligência Artificial?

Será mesmo que IA vai dominar a medicina em um futuro próximo?

Mas um tema que pretendo abordar e compartilhar, oportunamente, por aqui, com vocês.

 

Ter amplitude de visão é um valor tangível que tem seus paralelos e interseções para que tanto a ciência, a medicina e a arte possam ir muito além da mera funcionalidade ou visão estética.
Entenda como este também é um fator crucial para o sucesso da sua cirurgia de catarata.

Dr. Ricardo Guimarães, Diretor do Hospital de Olhos de MG, Pres. União Brasileira para a Qualidade (UBQ), Inovador e Empreendedor em Educação Médica e Saúde, Neurocientista Dir. LAPAN

 

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